Quem já teve contato com a parte técnica do carro ou costuma pesquisar sobre peças e manutenção pode ter esbarrado com o termo cânister. Embora seja um componente discreto e pouco conhecido por muitos motoristas, o cânister exerce um papel crucial no sistema de controle de emissões do veículo, contribuindo significativamente para a redução da poluição atmosférica.
Neste artigo, você vai entender em detalhes o que é essa peça, para que ela serve, como identificar possíveis falhas e, principalmente, como testá-la corretamente para garantir o bom funcionamento do seu veículo e a conformidade com as normas ambientais.
O que é o cânister?
O cânister, também conhecido como filtro de carvão ativado do sistema EVAP (Evaporative Emission Control System), é um componente essencial presente em veículos com motores a combustão. Seu principal objetivo é capturar e armazenar os vapores de combustível que evaporam do tanque, impedindo que sejam liberados diretamente na atmosfera.
Essa peça é basicamente um recipiente, geralmente feito de plástico resistente, preenchido com carvão ativado. O carvão ativado possui uma estrutura porosa que lhe confere uma alta capacidade de adsorção, permitindo que ele retenha eficientemente os vapores de gasolina.
Esses vapores são gerados naturalmente dentro do tanque de combustível, especialmente em condições de alta temperatura ambiente ou quando o veículo está parado.
Qual a função do cânister?
A principal função do cânister é capturar os vapores do combustível que se formam dentro do tanque. Esses vapores, se liberados diretamente no ar, contribuiriam para a poluição atmosférica e até poderiam causar riscos de explosão ou incêndio, dependendo do ambiente.
O cânister atua em conjunto com válvulas e sensores do sistema EVAP. Quando o motor funciona em condições ideais, a central de injeção eletrônica (ECU) abre a válvula do cânister, envia os vapores armazenados para o coletor de admissão e os mistura com o ar e o combustível. Em seguida, essa mistura é queimada na câmara de combustão como parte do funcionamento normal do motor.
Esse processo garante que os vapores não sejam liberados no meio ambiente, tornando o sistema mais eficiente e sustentável — e também evitando que o carro seja reprovado em testes de emissão veicular, como a inspeção ambiental (quando exigida).
Quais são os sintomas de falha no cânister?
Por ser uma peça que não está diretamente ligada à dirigibilidade do veículo, problemas no cânister ou no sistema EVAP podem não ser imediatamente perceptíveis ao motorista. No entanto, alguns sinais e sintomas podem indicar um mau funcionamento.
Ao notar qualquer um desses sintomas, é altamente recomendável levar o veículo a uma oficina mecânica de confiança para um diagnóstico preciso. Ignorar esses sinais pode levar a problemas mais graves no motor e no sistema de emissões, além de resultar em reprovação em inspeções veiculares.
Luz de injeção acesa no painel (Check Engine)
Este é um dos indicadores mais comuns de problemas no sistema EVAP. A Unidade de Controle do Motor (ECU) detecta anomalias na pressão do tanque de combustível ou no fluxo de vapores e acende a luz.
Um scanner OBD2 pode ser utilizado para ler os códigos de erro específicos (DTCs) relacionados ao sistema EVAP, como P0440, P0441, P0442, P0446 ou P0455, que indicam falhas nas emissões evaporativas.
Cheiro forte de gasolina
Se o cânister estiver saturado, entupido ou danificado, ele falha em absorver corretamente os vapores de combustível, que acabam escapando para o ambiente externo e gerando um forte odor de gasolina ao redor do veículo, especialmente após o abastecimento ou em dias quentes.
Dificuldade na partida ou marcha lenta irregular
Uma válvula de purga do cânister (válvula solenóide) travada aberta pode causar uma entrada excessiva de vapores de combustível no coletor de admissão, alterando a mistura ar-combustível. Isso pode levar a um enriquecimento da mistura, dificultando a partida do motor, causando falhas na ignição (engasgos) ou uma marcha lenta instável e irregular.
Tanque com dificuldade para abastecer
Problemas no cânister ou nas mangueiras e válvulas do sistema EVAP podem impedir a correta ventilação do tanque de combustível durante o abastecimento. Isso cria uma pressão excessiva dentro do tanque, fazendo com que a bomba de combustível do posto desarme repetidamente, dificultando o enchimento completo do tanque.
Redução da economia de combustível
Embora não seja um sintoma direto e facilmente perceptível, um sistema EVAP com falhas pode levar a uma queima ineficiente dos vapores de combustível ou até mesmo a um enriquecimento constante da mistura, resultando em um consumo de combustível ligeiramente maior do que o normal.
Como testar o cânister?
Testar o cânister e os componentes do sistema EVAP envolve desde procedimentos simples, que entusiastas com algum conhecimento em mecânica conseguem realizar, até métodos mais complexos, que exigem equipamentos específicos e a experiência de um profissional.
Em caso de dúvidas, é recomendável buscar a ajuda de uma oficina de confiança para um diagnóstico preciso e seguro.
Verificação visual
Antes de realizar testes mais detalhados, é essencial fazer uma verificação visual cuidadosa de todo o sistema. Comece observando a integridade do cânister, verificando se há rachaduras, deformações ou qualquer sinal de dano físico em sua estrutura, já que vazamentos visíveis podem indicar falhas.
Em seguida, inspecione todas as mangueiras conectadas ao cânister e ao restante do sistema EVAP, procurando sinais de ressecamento, rachaduras, furos, dobras ou conexões soltas. Qualquer mangueira danificada pode provocar vazamentos de vapor ou permitir a entrada de ar falso, comprometendo o funcionamento adequado do sistema.
Por fim, verifique se todas as abraçadeiras estão firmes e bem ajustadas, garantindo a vedação correta das conexões e evitando fugas ou falhas no fluxo dos vapores.
Teste da válvula de purga do cânister (válvula solenóide)
A válvula de purga do cânister, também conhecida como válvula solenóide, é essencial para controlar o fluxo de vapores de combustível para o motor, o que ajuda a otimizar o consumo e a reduzir as emissões. Para testá-la, primeiro remova a válvula com o motor frio, desconectando-a do chicote elétrico e das mangueiras, e anote a posição destas para a reinstalação.
Opcionalmente, você pode verificar a continuidade elétrica usando um multímetro para medir a resistência da bobina, comparando o valor com o manual do veículo. Em seguida, para o teste de atuação, aplique 12 volts nos terminais da válvula: ela deve emitir um “clique” audível, indicando o funcionamento do solenóide. Se não houver clique, ou se a válvula não abrir ou ficar travada, ela está com defeito.
Por fim, no teste de vedação, com a válvula desenergizada, o ar não deve passar por ela ao soprar. Ao energizá-la com 12 volts, o ar deve passar livremente. Realizar esses testes garante que a válvula de purga esteja operando corretamente, contribuindo para o bom desempenho do motor e do sistema de controle de emissões.
Teste com scanner automotivo (OBD2)
A maneira mais eficaz e precisa de diagnosticar falhas no sistema EVAP é por meio do uso de um scanner automotivo compatível com o padrão OBD2. Esse equipamento é capaz de se comunicar com a ECU do veículo e acessar diversas informações importantes.
Uma das principais funções do scanner é a leitura dos códigos de falha, conhecidos como DTCs. Códigos específicos relacionados ao sistema EVAP, como P0440 (falha geral no sistema), P0441 (fluxo de purga incorreto), P0442 (vazamento pequeno detectado), P0446 (problemas no controle de ventilação) e P0455 (vazamento grande detectado), servem como indicativos de que há algo errado com o sistema.
Teste de fluxo de ar e pressão/vácuo
Em oficinas especializadas, é possível realizar testes mais avançados para avaliar a integridade do cânister e de todo o sistema EVAP. Um dos procedimentos mais comuns é o teste de fumaça, no qual um gerador específico injeta fumaça não tóxica no sistema. Caso haja vazamentos, a fumaça escapa por mangueiras, conexões ou pelo próprio cânister, facilitando a identificação de falhas.
Outro método bastante utilizado é o teste de pressão e vácuo. Com o uso de equipamentos apropriados, aplica-se pressão ou cria-se vácuo no sistema para verificar sua capacidade de retenção. Se houver uma queda rápida nesses níveis, isso pode indicar um vazamento. Já quando o sistema não consegue manter a pressão ou o vácuo, o problema pode estar em um cânister entupido ou saturado.
Cânister precisa de manutenção?
O cânister em si, por ser um componente passivo que contém carvão ativado, não exige manutenção periódica ou preventiva em intervalos regulares, como a troca de óleo ou filtros de ar. O carvão ativado em seu interior possui uma vida útil consideravelmente longa, projetada para durar por muitos anos e quilômetros sob condições normais de uso.
No entanto, isso não significa que o cânister esteja imune a falhas. Ele pode apresentar problemas ao longo do tempo, especialmente em veículos com alta quilometragem ou que foram submetidos a condições adversas.
É importante ressaltar que, na maioria dos casos, quando há um problema no sistema EVAP, a falha pode estar em uma das mangueiras, válvulas ou sensores antes mesmo do cânister precisar ser substituído. Por isso, um diagnóstico preciso é fundamental para identificar a causa raiz do problema e evitar a substituição desnecessária de peças.
Principais causas de problemas do cânister
Abastecimento excessivo
Encher o tanque de combustível além do limite recomendado (até a boca) pode fazer com que o combustível líquido entre no cânister. O carvão ativado é projetado para absorver vapores, não líquidos. A presença de combustível líquido pode saturar e danificar permanentemente o carvão, comprometendo sua capacidade de adsorção.
Combustível adulterado
O uso de combustível de má qualidade ou adulterado pode gerar vapores com impurezas que, ao longo do tempo, podem contaminar e reduzir a eficiência do carvão ativado.
Falha de outros componentes do sistema EVAP
Como o cânister faz parte de um sistema interligado, a falha de outros componentes, como a válvula de purga (travada aberta ou fechada), a válvula de ventilação do tanque, ou mangueiras e conexões danificadas, pode sobrecarregar o cânister ou expô-lo a condições anormais, levando à sua falha prematura.
Danos físicos
Impactos ou vibrações excessivas podem causar rachaduras no corpo do cânister ou em suas conexões, resultando em vazamentos de vapores.
Conclusão
O cânister é uma peça essencial para o controle de emissões do seu carro — mesmo que discreta e pouco falada. Ele garante que os vapores do combustível sejam tratados corretamente, evitando a poluição do ar e contribuindo para o bom funcionamento do motor.
Ficar atento aos sinais de mau funcionamento e realizar testes simples pode evitar problemas maiores e até prejuízos na hora de passar em uma inspeção veicular. Se você suspeita de falha no cânister, não hesite em procurar uma oficina de confiança. Manter o sistema EVAP em ordem é mais um passo para garantir eficiência, economia e respeito ao meio ambiente.